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terça-feira, 29 de setembro de 2015

ÍNTEGRA DO DISCURSO DA PRESIDENTE DILMA NA ONU - 2015



28/09/15

Senhoras e Senhores:

É um privilégio poder dirigir-me à Assembleia-Geral neste ano em que as Nações Unidas celebram seu septuagésimo aniversário.

Minhas primeiras palavras, senhor presidente, são de congratulações por sua escolha para presidir esta Assembleia Geral.

Reitero, em especial, o apoio do Brasil à sua disposição de adotar medidas que fortalecem a agenda de desenvolvimento da organização.

Setenta anos são passados da Conferência de São Francisco. Buscou-se, naquela ocasião, construir um mundo fundado no Direito Internacional e na busca de soluções pacíficas para os conflitos. Desde então, tivemos avanços e recuos. O processo de descolonização apresentou notável evolução, como se pode constatar contemplando a composição desta Assembleia.

A ONU ampliou suas iniciativas incorporando a Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ou seja, as questões relativas ao meio ambiente, ao fim da pobreza, ao desenvolvimento social e econômico e ao acesso a serviços de qualidade.

Temas como os desafios urbanos, a questão de gênero, das mulheres e das meninas, as questões de raça, ganharam prioridade. Não conseguiu o mesmo êxito ao tratar da segurança coletiva, questão que esteve na origem da Organização e no centro de suas preocupações.

A multiplicação de conflitos regionais – alguns com alto potencial destrutivo –, assim como a expansão do terrorismo que mata homens, mulheres e crianças, que destrói patrimônio da humanidade, que expulsa de suas comunidades seculares milhões de pessoas, mostram que a ONU está diante de um grande desafio.

Não se pode ter complacência com tais atos de barbárie, como aqueles perpetrados pelo chamado Estado Islâmico e por outros grupos associados. Esse quadro explica, em boa medida, a crise dos refugiados pela qual passa atualmente a humanidade.

Grande parte dos homens, mulheres e crianças que se aventuram nas águas do Mediterrâneo e erram penosamente nas estradas da Europa provêm do Oriente Médio e Norte da África, onde países tiveram seus Estados nacionais desestruturados por ações militares ao arrepio do Direito Internacional, abrindo espaço para a proliferação do terrorismo.

A profunda indignação provocada pela foto de um menino sírio morto nas praias da Turquia e pela notícia sobre as 71 pessoas asfixiadas em um caminhão na Áustria deve se transformar em ações inequívocas de solidariedade prática. Em um mundo onde circulam, livremente, mercadorias, capitais, informações e ideias, é absurdo impedir o livre trânsito de pessoas.

O Brasil é um país de acolhimento, um país formado por refugiados. Recebemos sírios, haitianos, homens e mulheres de todo o mundo, assim como abrigamos, há mais de um século, milhões de europeus, árabes e asiáticos. Estamos abertos, de braços abertos para receber refugiados. Somos um país multiétnico, que convive com as diferenças e sabe a importância delas para nos tornar mais fortes, mais ricos, mais diversos, tanto cultural, quanto social e economicamente.

Senhor presidente:

Esse inquietante pano de fundo nos impõe uma reflexão sobre o futuro das Nações Unidas e nos exige agir concreta e rapidamente. Necessitamos uma ONU capaz de fomentar uma paz sustentável no plano internacional e de atuar com presteza e eficácia em situações de guerra, de crise regional localizada e de quaisquer atos contra a humanidade.

Não se pode postergar, por exemplo, a criação de um Estado Palestino que conviva pacífica e harmonicamente com Israel. Da mesma forma, não é tolerável a expansão de assentamentos nos territórios ocupados.

Para dar às Nações Unidas a centralidade que lhe corresponde, é fundamental uma reforma abrangente de suas estruturas. Seu Conselho de Segurança necessita ampliar seus membros permanentes e não permanentes para tornar-se mais representativo, mais legítimo e eficaz. A maioria dos Estados-membros não quer que uma decisão a esse respeito possa ser eternamente adiada.
Temos a esperança de que a reunião que hoje se inicia entre para a história como o ponto de inflexão na trajetória das Nações Unidas. Que traga resultados concretos no longo e, até agora, inconcluso processo de reforma da Organização.

Nossa região – onde impera a paz e a democracia – se regozija com o estabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos, que põe fim a um contencioso derivado da Guerra Fria. Esperamos que esse processo venha a completar-se com o fim do embargo que pesa sobre Cuba.
Celebramos, igualmente, o recente acordo logrado com o Irã, que permitirá a esse país desenvolver a energia nuclear para fins pacíficos e devolver a esperança de paz para toda uma região.

No âmbito do Brics, lançamos um Novo Banco de Desenvolvimento, que ajudará na ampliação do comércio e dos investimentos e, possivelmente, na consecução dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Senhor presidente,

A Agenda 2030 desenha o futuro que queremos. Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável reafirmam o preceito da Rio+20, que é afirmar que é possível crescer, incluir, conservar e proteger. Estabelecem metas universais, evidenciam a necessidade de cooperação entre os povos e um caminho comum para a humanidade.

Esta Agenda exige solidariedade global, determinação de cada um de nós e compromisso com o enfrentamento da mudança do clima, com a superação da pobreza e da miséria e a construção de oportunidade para todos.

Em Paris, em dezembro próximo, devemos fortalecer a Convenção do Clima com pleno cumprimento de seus preceitos e respeito a seus princípios. As obrigações que assumirmos devem ser ambiciosas – inclusive no que se refere a apoios financeiros e tecnológicos aos países em desenvolvimento e às pequenas ilhas –, em sintonia com o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas.

O Brasil está fazendo grande esforço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa sem comprometer seu desenvolvimento, nosso desenvolvimento. Continuamos diversificando as fontes renováveis em nossa matriz energética, que está entre as mais limpas do mundo. Estamos investindo na agricultura de baixo carbono. Reduzimos em 82% o desmatamento na grande floresta amazônica.
A ambição continuará a pautar nossas ações. Por isso, anunciei ontem, aqui na ONU, nossa INDC [ - Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada, na sigla em inglês - ]. Será de 43% a contribuição do Brasil para a redução das emissões de gases de efeito estufa até 2030, com base em 2005. Neste período, o Brasil pretende o fim do desmatamento ilegal; o reflorestamento de 12 milhões de hectares; a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas; a integração de 5 milhões de hectares de lavoura, pecuária e florestas.

Em um mundo em que a participação das fontes renováveis de energia é de apenas 13%, em média, da matriz energética, pretendemos garantir o percentual de 45% de fontes renováveis na nossa matriz energética. Vamos buscar a participação de 66% da fonte hídrica na geração de eletricidade; a participação de 23% das fontes renováveis – eólica, solar e biomassa – na geração de energia elétrica; o aumento de cerca de 10% na eficiência energética; e a participação de 16% de etanol carburante e das demais biomassas derivadas da cana-de-açúcar no total da matriz energética. O Brasil contribui, assim, para que o mundo possa atender às recomendações do Painel de Mudança do Clima, que estabelece o limite de dois graus Celsius de aumento de temperatura neste século.

Somos um dos poucos países em desenvolvimento a assumir meta absoluta de redução de emissões. Nossa INDC inclui ainda ações que aumentam a resiliência do meio ambiente e reduzem os riscos associados aos efeitos negativos da mudança do clima sobre as populações mais pobres, mais vulneráveis, com atenção para as questões de gênero, do direito dos trabalhadores, das comunidades indígenas, ou quilombolas/negras e tradicionais. Reconhecemos a importância da cooperação Sul-Sul no esforço global de combater a mudança do clima.

Enfatizo que, desde 2003, políticas sociais e de transferência de renda contribuíram para que mais de 36 milhões de brasileiros superassem a pobreza extrema. O Brasil saiu, no ano passado, do Mapa Mundial da Fome. Isso evidencia a eficácia de nossa política, chamada Fome Zero, que agora se transforma no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 2.

Na transição para uma economia de baixo carbono, consideramos importante assegurar condições dignas e justas para o mundo do trabalho. O desenvolvimento sustentável exige a promoção do trabalho decente, a geração de empregos de qualidade e a garantia de oportunidades. O esforço para superar a pobreza e promover o desenvolvimento tem de ser coletivo e global. Em meu País, no entanto, sabemos que o fim da pobreza extrema é só um começo de uma longa trajetória de novas conquistas.

Senhor presidente,
Por seis anos, buscamos evitar que os efeitos da crise mundial que eclodiu em 2008 no mundo desenvolvido, se abatessem sobre nossa economia e nossa sociedade. Por seis anos, adotamos um amplo conjunto de medidas reduzindo imposto, ampliando crédito, reforçando o investimento e o consumo das famílias. Aumentamos os empregos, aumentamos a renda nesse período.

Esse esforço chegou agora no limite, tanto por razões fiscais internas como por aquelas relacionadas ao quadro externo. A lenta recuperação da economia mundial e o fim do superciclo das commodities incidiram negativamente sobre nosso crescimento. A desvalorização cambial e as pressões recessivas produziram inflação e forte queda da arrecadação, levando a restrições nas contas públicas. O Brasil, no entanto, não tem problemas estruturais graves, nossos problemas são conjunturais. E, diante dessa situação, estamos reequilibrando o nosso orçamento e assumimos uma forte redução de nossas despesas, do gasto de custeio e até de parte do investimento. Realinhamos preços, estamos aprovando medidas de redução permanente de gastos. Enfim, propusemos cortes drásticos de despesas e redefinimos nossas receitas.

Todas essas iniciativas visam reorganizar o quadro fiscal, reduzir a inflação, consolidar a estabilidade macroeconômica, aumentar a confiança na economia e garantir a retomada do crescimento com distribuição de renda.

Hoje, a economia brasileira é mais forte, sólida e resiliente do que há alguns anos atrás. Temos condições de superar as dificuldades atuais e avançar na trilha do desenvolvimento.
Estamos num momento de transição para um novo ciclo de expansão mais profundo, mais sólido e mais duradouro. Além das ações de reequilíbrio fiscal e financeiro, de estímulo às exportações, também adotamos medidas de incentivo ao investimento em infraestrutura e energia.
No Brasil, o processo de inclusão social não foi interrompido. Esperamos, que o controle da inflação, a retomada do crescimento e do crédito contribuirão para uma maior expansão do consumo das famílias.

Essas são as bases para este novo ciclo de crescimento e desenvolvimento, baseado no aumento da produtividade e na geração de mais oportunidades de investimento para empresas e de empregos para os cidadãos.

Senhoras e senhores,
Os avanços que logramos nos últimos anos foram obtidos em um ambiente de consolidação e de aprofundamento da nossa democracia.

Graças à plena vigência da legalidade e ao vigor das instituições democráticas, o funcionamento do Estado tem sido escrutinado de forma firme e imparcial pelos poderes e organismos públicos encarregados de fiscalizar, investigar e punir desvios e crimes.

O governo e a sociedade brasileiros não toleram e não tolerarão a corrupção.

A democracia brasileira se fortalece quando a autoridade assume o limite da lei como o seu próprio limite.

Nós, os brasileiros, queremos um país em que a lei seja o limite. Muitos de nós lutamos por isso justamente quando as leis e os direitos foram vilipendiados durante a ditadura.
Queremos um País em que os governantes se comportem rigorosamente segundo suas atribuições, sem ceder a excessos. Em que os juízes julguem com liberdade e imparcialidade, sem pressões de qualquer natureza e desligados de paixões político-partidárias, jamais transigindo com a presunção da inocência de quaisquer cidadãos.

Queremos um País em que o confronto de ideias se dê em um ambiente de civilidade e respeito. Queremos um País em que a liberdade de imprensa seja um dos fundamentos do direito de opinião. E a manifestação de posições diversas, direito de cada um dos brasileiros.

As sanções da lei devem recair sobre todos os que praticam e praticaram atos ilícitos, respeitados o princípio do contraditório e da ampla defesa. Essas são as bases de nossa democracia e valho-me de recente manifestação de meu amigo José Mujica, ex-presidente uruguaio, que disse:
“Esta democracia não é perfeita porque nós não somos perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la”.

Que fique consignado que o Brasil continuará trilhando o caminho democrático e não abrirá mão das conquistas pelas quais tanto lutamos.

Senhoras e senhores,
Quero valer-me desta ocasião para reiterar que o Brasil espera, de braços abertos, os cidadãos de todo o mundo para a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.
Essa será oportunidade única para difundir o esporte como instrumento fundamental de promoção da paz, da inclusão social, da tolerância, por meio da luta contra a discriminação racial, étnica e de gênero.

Será também ocasião para que possamos promover a inclusão de pessoas com deficiência, uma das prioridades de meu governo.
Uma última palavra. Há poucos dias, foram reinaugurados aqui na sede das Nações Unidas os murais chamados Guerra e Paz, do artista brasileiro Cândido Portinari, doados à ONU pelo governo do meu País, em 1957.

A obra denuncia a violência e a miséria e exorta os povos a buscar o entendimento. É um símbolo para as Nações Unidas quanto à sua responsabilidade de evitar os conflitos armados e de promover a paz, a justiça social e a superação da fome e da pobreza.
Portinari sempre afirmou que, cito: “Não há nenhuma grande arte que não esteja identificada com as pessoas”.

A mensagem dos murais permanece atual. Alude tanto às vítimas das guerras como aos refugiados que arriscam suas vidas em precários barcos e a todos os anônimos que buscam na ONU proteção, paz e bem-estar.

Esperamos que, ao ingressar neste recinto das Nações Unidas e ao olhar esses murais em sua entrada, sejamos capazes de escutar a voz dos povos que representamos e de trabalhar com afinco para que seus anseios de paz e progresso venham a ser atendidos. Afinal, foram esses os ideais que estiveram, 70 anos atrás, presentes no ato fundacional dessa grande conquista da humanidade que é a Organização das Nações Unidas.

Muito obrigada, senhor presidente. Muito obrigada a todos.

ÍNTEGRA DO DISCURSO DE OBAMA NA 70ª REUNIÃO DA ONU - 2015


28/09/15



O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante a Assembleia Geral da ONU nesta segunda-feira (28) em Nova York (Foto: Andrew Harnik/AP)

"Senhor presidente, senhor secretário-geral, colegas delegados, senhoras e senhores. Passados 70 anos da fundação das Nações Unidas, vale refletir sobre aquilo que, juntos, os membros desta organização ajudaram a realizar. 

Das cinzas da Segunda Guerra Mundial, tendo testemunhado o poder impensável da era atômica, os Estados Unidos trabalharam com muitas das nações da Assembleia para prevenir uma terceira guerra mundial, criando alianças com antigos adversários; apoiando o desenvolvimento de democracias fortes e que prestassem contas aos seus cidadãos, e não a potências estrangeiras; e construindo um sistema internacional que impusesse custo àqueles que escolhessem o conflito de preferência à cooperação -em uma ordem que reconhecesse a dignidade e o trabalho iguais de todos os povos.

Esse é o trabalho de sete décadas. Esses são os ideais que este órgão, em seus melhores momentos, buscou. É claro que houve ocasiões demais em que, coletivamente, ficamos aquém desses ideais. Ao longo de sete décadas, conflitos terríveis causaram número incontável de vítimas, mas seguimos adiante, aos poucos mas firmemente, para criar um sistema de regras e normas internacionais melhores, mais fortes e mais coerentes.

É essa ordem internacional não escrita que subscreveu os avanços sem paralelos na liberdade e prosperidade humana. É essa empreitada coletiva que trouxe cooperação diplomática entre as grandes potências do planeta e deu sustentação a uma economia globalizada que tirou mais de um bilhão de pessoas da pobreza.

Foram esses princípios internacionais que ajudaram a impedir que países maiores impusessem sua vontade aos menores, e que levaram adiante a ascensão da democracia, e o desenvolvimento, e a liberdade, em todos os continentes.

Esse progresso é real. Ele pode ser documentado pelas vidas salvas, pelos acordos conquistados, pelas bocas que receberam alimento.

E no entanto estamos aqui reunidos hoje sabendo que os marcos do progresso humano jamais avançam em linha reta, que nosso trabalho está longe de completo, que existem perigosas correntes capazes de nos arrastar a um mundo mais sombrio e desordenado.

Hoje, vemos o colapso de homens fortes e Estados frágeis gerando conflitos, e conduzindo homens, mulheres e crianças a atravessar fronteiras em escala épica. Redes brutais de terror ocuparam o vácuo. Tecnologias que aumentam as capacidades dos seres humanos agora também são exploradas por aqueles que espalham a desinformação, suprimem a dissensão ou radicalizam os nossos jovens.
Os fluxos mundiais de capitais impulsionaram o crescimento e o investimento, mas também aumentaram o risco de contágio, enfraquecendo o poder de barganha dos trabalhadores e acelerando a desigualdade.

Como deveríamos responder a essas tendências? Há aqueles que argumentam que os ideais encapsulados na Carta das Nações Unidas são inatingíveis, ou obsoletos -um legado da era do pós-guerra, e incompatíveis com a nossa. Efetivamente, essas pessoas argumentam por um retorno às regras que se aplicavam durante a maior parte da história humana, e precedem esta instituição- a crença em que o poder é um jogo no qual, para que alguém ganhe, alguém precisa perder; em que a força vale mais que o direito; em que os Estados poderosos devem impor sua vontade aos mais fracos; em que os direitos dos indivíduos não importam. E em que, num período de rápida mudança, a ordem deve ser imposta pela força.

Tendo isso por base, vemos algumas grandes potências se afirmando de maneiras que contradizem as regras internacionais. Vemos uma erosão dos princípios democráticos e dos direitos humanos que são fundamentais à missão desta instituição. A informação é rigorosamente controlada, o espaço da sociedade civil, restrito. Dizem-nos que essa reacomodação é necessária para resistir à desordem, que é a única maneira de derrotar o terrorismo, ou prevenir interferência externa. De acordo com essa lógica, deveríamos apoiar tiranos como Bashar al-Assad, que bombardeia crianças inocentes, porque a alternativa certamente seria pior.

Esse crescente ceticismo quanto à nossa ordem internacional também pode ser encontrado nas mais avançadas democracias. Vemos polarização maior, impasses mais frequentes, movimentos na extrema direita, e às vezes na esquerda, que insistem em interromper o comércio que unifica nossos destinos aos de outras nações, apelando pela construção de muros que impeçam a entrada de imigrantes.
O mais ameaçador é que vemos os medos das pessoas comuns explorados por meio de apelos ao sectarismo, tribalismo, racismo ou antissemitismo, apelos a um passado glorioso no qual nosso organismo político ainda não havia sido infectado por pessoas de aparência diferente, ou que cultuem a Deus de maneira diferente.
Os Estados Unidos não estão imunes a isso. Ainda que nossa economia esteja crescendo e que nossos soldados tenham em geral retornado do Iraque e Afeganistão, vemos em nossos debates sobre o papel dos Estados Unidos no planeta uma ideia de força definida pela oposição a velhos inimigos e novos adversários percebidos, a uma China ascendente ou Rússia ressurreta, um Irã revolucionário ou islã incompatível com a paz. Vemos repetido o argumento de que a única força que importa para os Estados Unidos são palavras belicosas e demonstrações de poderio militar. Que cooperação e diplomacia não funcionam.

Como presidente dos Estados Unidos, estou ciente dos perigos que enfrentamos. Eles chegam à minha mesa a cada manhã. Lidero as forças armadas mais poderosas que o mundo já conheceu, e jamais hesitarei em proteger meu país e nossos aliados, unilateralmente e pela força, quando necessário. Mas hoje falo a vocês trazendo a convicção profunda de que nós, como nações do mundo, não podemos retornar aos velhos modos de conflito e coerção.

Não podemos olhar para trás. Vivemos em um mundo integrado, no qual todos temos interesse no sucesso mútuo. Não podemos dar as costas a essas forças de integração.

Nenhum país nesta Assembleia tem como se isolar contra a ameaça do terrorismo ou o risco de contágio financeiro, o fluxo de migrantes ou o perigo do aquecimento global. A desordem que vemos não é propelida apenas pela competição entre as nações ou qualquer ideologia isolada e, se não conseguirmos trabalhar juntos de modo mais efetivo, todos sofreremos as consequências. Isso se aplica igualmente aos Estados Unidos. Não importa o quanto nossas forças armadas sejam poderosas, o quanto seja forte a nossa economia, compreendemos que os Estados Unidos não são capazes de resolver sozinhos os problemas do mundo.

No Iraque, os Estados Unidos aprenderam a dura lição de que mesmo centenas de milhares de soldados valentes e efetivos, e trilhões de dólares de nosso Tesouro, não bastam para impor estabilidade em uma terra estrangeira. A menos que trabalhemos com outras nações sob o manto das normas e princípios internacionais, e de leis que ofereçam legitimidade aos nossos esforços, não teremos sucesso. E a menos que trabalhemos juntos para derrotar as ideias que propelem as diferentes comunidades de um país como o Iraque a um conflito, qualquer ordem que nossos soldados consigam impor será temporária.

E da mesma forma que a força não basta para impor a ordem internacionalmente, tenho a profunda convicção de que repressão não criará a coesão social de que uma nação necessita para o sucesso. A história das duas últimas décadas prova que as ditaduras do mundo atual são instáveis. Os homens fortes de hoje podem se tornar a centelha das revoluções do amanhã. Você pode aprisionar seus oponentes mas não há como aprisionar ideias. Pode-se tentar controlar a informação, mas não se pode transformar mentiras em verdades.

Não é uma conspiração de ONGs apoiadas pelos Estados Unidos que expõe a corrupção e desperta as esperanças dos povos de todo o mundo; é a tecnologia, a mídia social, e o desejo irredutível de todos os povos de escolherem por sua conta a forma pela qual serão governados. De fato, acredito que no mundo atual, o que mede a força não é mais o território controlado. A prosperidade duradoura não vem apenas da capacidade de acessar e extrair matérias-primas. A força das nações depende do sucesso de seus povos, de seu conhecimento, sua inovação, sua imaginação, sua criatividade, seu esforço, suas oportunidades, o que por sua vez depende de direitos individuais e boa governança, e da segurança pessoal.

A repressão interna e a agressão externa são ambas sintomas do fracasso em prover essas fundações. A política e a solidariedade criada pela dependência quanto a demonizar os outros, que atrai o sectarismo nada religioso, o tribalismo ou o patriotismo de vitrine, pode às vezes parecer uma força, momentaneamente, mas com o tempo sua fraqueza será exposta. E a História nos diz que as forças sombrias desencadeadas por esse tipo de política certamente nos tornam todos menos seguros.
Nosso mundo já passou por isso. Nada ganhamos por voltar no tempo. Em lugar disso, acredito que devamos ir adiante na busca de nossos ideais, sem abandoná-los nesse momento crítico.
Devemos dar expressão às nossas melhores esperanças, não aos nossos mais profundos medos. Esta instituição foi fundada porque os homens e mulheres que nos antecederam foram previdentes e sabiam que nossas nações estão mais seguras quando aderimos a leis básicas, normas básicas, e buscamos cooperação acima do conflito. E as nações fortes, mais que todas, têm a responsabilidade de sustentar essa ordem internacional.

Permitam-me oferecer um exemplo concreto.

Ao assumir a Presidência, deixei claro que uma das principais realizações desta Assembleia, o regime de não proliferação nuclear, deveria ser engajado pela violação iraniana ao Tratado de Não Proliferação Nuclear; com base nisso, o Conselho de Segurança apertou as sanções contra o governo iraniano e muitas nações se uniram a nós em sua imposição. Juntos, demonstramos que leis e acordos significam alguma coisa, mas também compreendíamos que o objetivo das sanções não era simplesmente punir o Irã. O objetivo era testar se o Irã estaria disposto a mudar de rumo, aceitar restrições, e permitir que o mundo verificasse que seu programa nuclear será pacífico.
Por dois anos, os Estados Unidos e nossos parceiros, incluindo a Rússia, incluindo a China, mantiveram a união em meio a complexas negociações. O resultado é um acordo duradouro e abrangente que impede o Irã de obter uma arma nuclear, mas permite seu acesso à energia pacífica; se esse acordo for plenamente implementado, a proibição a armas nucleares sairá reforçada, uma potencial guerra terá sido evitada e o nosso mundo estará mais seguro.

Essa é a força do sistema internacional quando ele trabalha da maneira que deveria. A mesma fidelidade à ordem internacional orienta nossas respostas a outros desafios em todo o mundo. Considerem a anexação da Crimeia pela Rússia, e as demais agressões no leste da Ucrânia. Os Estados Unidos têm poucos interesses econômicos na Ucrânia. Reconhecemos a história complexa e profunda entre Rússia e Ucrânia, mas não podemos nos colocar de lado quando a soberania e integridade territorial de uma nação são flagrantemente violadas.

Se isso acontecer sem consequências na Ucrânia, poderia acontecer a qualquer das nações hoje aqui reunidas. Essa é a base das sanções que os Estados Unidos e nossos parceiros impuseram à Rússia. Não se trata de um desejo de voltar à guerra fria.

É evidente que, dentro da Rússia, a mídia controlada pelo Estado pode descrever esses eventos como exemplo de um país ressurreto. Visão compartilhada, de certa maneira, por diversos políticos e comentaristas norte-americanos que sempre foram profundamente céticos quanto à Rússia e parecem convencidos de que uma nova guerra fria, de fato, já começou. No entanto, vejam os resultados. O povo ucraniano está cada vez mais interessado em se alinhar à Europa, em lugar da Rússia. As sanções causaram fuga de capitais. Uma economia em contração, o rublo em queda, a emigração de maior número de russos com bom nível educacional.

Imagine se, em lugar disso, a Rússia se tivesse se engajado em diplomacia real e trabalhado com a Ucrânia e a comunidade internacional para garantir que seus interesses estejam bem protegidos. Isso teria sido melhor para a Ucrânia mas também para a Rússia, e melhor para o mundo, o que explica por que continuamos a pressionar para que essa crise seja resolvida de maneira que permita que uma Ucrânia soberana e democrática determine seu destino e controle seu território. Não porque desejamos isolar a Rússia -não desejamos-, mas porque queremos uma Rússia forte e investida em trabalhar conosco para reforçar o sistema internacional como um todo.

De forma semelhante, no mar do Sul da China, os Estados Unidos não têm reivindicações territoriais. Não adjudicamos quaisquer reivindicações, mas como todas as nações aqui reunidas temos o interesse em sustentar os princípios básicos de liberdade de navegação e livre fluxo de comércio.
Assim, defenderemos esses princípios e encorajaremos a China e outros queixosos a que resolvam suas diferenças pacificamente.

E o digo sabendo que a diplomacia é difícil. Que os desfechos são algumas vezes insatisfatórios. Que ela é raramente popular em termos políticos. Mas acredito que os líderes das grandes nações, especialmente, têm a obrigação de assumir esses riscos, precisamente porque somos fortes o bastante para proteger nossos interesses, se e quando a diplomacia falhar.

Também acredito que para avançar nessa nova era, tenhamos de ser fortes o bastante para reconhecer que aquilo que se estava fazendo não funciona. Por 50 anos, os Estados Unidos mantiveram quanto a Cuba uma política que em nada melhorou a vida do povo cubano. Nós a mudamos. Continuaremos a ter diferenças para com o governo cubano, continuaremos a defender os direitos humanos, mas trataremos essas questões por meio de relações diplomáticas e da expansão do comércio. E de relações entre os dois povos.

À medida que esses contatos produzam avanços, estou confiante em que o nosso Congresso inevitavelmente abolirá um embargo que já não deveria mais estar em vigor.

A mudança não chegará a Cuba do dia para a noite, mas estou confiante em que abertura, não coerção, servirá melhor como apoio às reformas e para melhorar a vida do povo cubano. Da mesma forma que acredito que Cuba encontrará o sucesso se ampliar sua cooperação com outras nações.
Bem, se interessa às grandes potências sustentar os padrões internacionais, isso se aplica ainda mais aos demais integrantes da comunidade de nações. Vejam o que acontece em todo o mundo. De Cingapura à Colômbia, passando pelo Senegal, os fatos demonstram que nações encontram o sucesso quando buscam paz e prosperidade inclusivas dentro de suas fronteiras, e cooperação com os demais países, para além delas.

Um caminho como esse está aberto agora a uma nação como o Irã, que até o momento continua a utilizar prepostos violentos para promover seus interesses. Esses esforços podem parecer propiciar ao Irã influência em suas disputas com os vizinhos, mas alimentam conflitos sectários que colocam toda a região em risco, e isolam o Irã da promessa de comércio e intercâmbio.

O povo iraniano tem uma história de orgulho e está repleto de extraordinário potencial. Mas gritar "morte à América" não cria empregos nem torna o Irã mais seguro.
Se o Irã optar por um caminho diferente, será melhor para a segurança da região, bom para o povo iraniano e bom para o mundo.

É claro que, em todo o mundo, continuaremos a ser confrontados por nações que rejeitam essas lições da história, lugares nos quais conflitos civis, disputas de fronteira e guerras sectárias produzem enclaves terroristas e desastres humanitários. Onde a ordem tenha sofrido completa dissolução, devemos agir. Mas seremos mais fortes caso o façamos juntos.

Em esforços como esses, os Estados Unidos sempre farão sua parte. E o faremos cientes das lições do passado. Não só as lições do Iraque mas também o exemplo da Líbia, onde participamos de uma coalizão internacional sob mandato da ONU a fim de impedir o morticínio. Embora tenhamos ajudado o povo líbio a pôr fim ao reino de um tirano, nossa coalizão poderia e deveria ter feito mais para preencher o vazio deixado. Somos gratos às Nações Unidas por seus esforços para criar um governo de união. Ajudaremos qualquer governo legítimo da Líbia em seu trabalho de unir o país. Mas também precisamos reconhecer que é necessário trabalhar mais efetivamente no futuro, como comunidade internacional, a fim de capacitar com mais rapidez os Estados em crise, e assim evitar que entrem em colapso.

E é por isso que devemos celebrar o fato de que, ainda hoje, os Estados Unidos se unirão a 50 outros países para oferecer novos recursos, infantaria, serviços de informações, helicópteros, hospitais e dezenas de milhares de soldados para reforçar as operações de paz da ONU.

Esses novos recursos podem impedir matanças em massa e garantir que acordos de paz sejam mais que palavras no papel. Mas temos de fazê-lo juntos. Juntos precisamos reforçar nossa capacidade coletiva, onde a ordem se tenha dissolvido, e apoiar os que buscam uma paz justa e duradoura. Em lugar nenhum nosso compromisso para com a ordem internacional vem sofrendo teste mais severo do que na Síria. Quando um ditador massacra dezenas de milhares de seus concidadãos, isso não é uma questão interna. Causa sofrimento humano de uma ordem de magnitude que afeta a todos.
Da mesma forma, quando um grupo terrorista decapita prisioneiros, massacra inocentes e escraviza mulheres, não se trata de um problema de segurança nacional para uma só nação, e sim de uma agressão a toda a humanidade. Já disse antes e repetirei: não existe espaço para acomodar um culto apocalíptico como o EI, e os Estados Unidos não pedem desculpas pelo uso de suas forças armadas como parte de uma ampla coalizão que o está combatendo. Nós o fazemos com a determinação de garantir que em lugar algum haja porto seguro para os terroristas que cometem esses crimes. E demonstramos ao longo de mais de uma década de perseguição incansável à Al Qaeda que os extremistas não sobreviverão a nós. Mas embora o poder militar seja necessário, não é suficiente para resolver a situação na Síria. Estabilidade duradoura só surgirá quando os povos da Síria chegarem a um acordo que permita que vivam juntos pacificamente. Os Estados Unidos estão preparados para trabalhar com qualquer nação, incluindo Rússia e Irã, a fim de resolver o conflito. Precisamos reconhecer que, depois de tanta carnificina, de tanto sangue derramado, não é possível simplesmente voltar à situação que existia antes da guerra.

Recordemos como isso começou. Assad reagiu a protestos pacíficos com uma escalada de repressão e matança que, por sua vez, preparou o terreno para a disputa atual. E assim Assad e seus aliados não podem simplesmente pacificar a ampla maioria de uma população que foi brutalizada por armas químicas e bombardeios indiscriminados. Sim, o realismo dita que será necessário um compromisso para pôr fim aos combates e destruir o EI. Mas o realismo também requer uma transição que conduza de Assad a um novo líder e governo inclusivo, que reconheça a necessidade de um fim para o caos, o que permitiria que o povo sírio comece a reconstrução.

Sabemos que o EI, que emergiu do caos no Iraque e Síria, depende da guerra perpétua para sobreviver. Mas também sabemos que eles conseguem adesões devido a uma ideologia venenosa. Assim, parte de nosso trabalho conjunto é rejeitar esse extremismo que infecta tantos de nossos jovens.

Parte desse esforço precisa ser a rejeição continuada, pelos muçulmanos, daqueles que distorcem o islã, para pregar a intolerância e promover a violência. E precisa também envolver rejeição pelos não muçulmanos da ignorância que equipara islamismo e terrorismo.

Esse trabalho requer tempo. Não existem respostas fáceis para a Síria e não existem respostas simples para as mudanças que estão acontecendo em boa parte do Oriente Médio e África. Mas muitas famílias precisam de ajuda agora, e não temos mais tempo.

É por isso que os Estados Unidos estão elevando o número de refugiados que acolheremos em nosso país. É por isso que continuaremos a ser os maiores doadores de recursos assistenciais a esses refugiados. E hoje estamos lançando novos esforços para garantir que o nosso povo, nossas empresas, nossas universidades e nossas ONGs também possam ajudar.

Nos rostos de tantas famílias sofridas, nosso país de imigrantes vê a si mesmo. É claro que, sob a maneira velha de pensar, o sofrimento dos despossuídos, o sofrimento dos refugiados, o sofrimento dos marginalizados, não importa. Eles sempre estiveram na periferia das preocupações do planeta.
Hoje, nossa preocupação quanto a eles deveria ser propelida não apenas pela consciência, mas também pelo auto-interesse. Pois ajudar aqueles que foram colocados à margem de nosso mundo não é só caridade, mas uma questão de segurança coletiva. E o propósito desta instituição é não só evitar conflitos, mas galvanizar ação coletiva de forma a tornar melhor a vida neste planeta.
Os compromissos que assumimos quanto às Metas de Desenvolvimento Sustentável afirmam essa realidade.

Acredito que o capitalismo foi o maior criador de riqueza e oportunidades que o mundo já conheceu. Mas, das grandes cidades a pequenas aldeias rurais em todo o planeta, também sabemos que a prosperidade continua cruelmente inatingível para muitos.

Como nos lembra Sua Santidade, o Papa Francisco, somos mais fortes quando conferimos igual valor aos mais humildes de nossos irmãos, e os vemos como tão dignos quanto nós, nossos filhos, nossas filhas. Podemos reduzir as doenças passíveis de prevenção e pôr fim ao flagelo do HIV/Aids. Podemos eliminar pandemias que não respeitam fronteiras. Esse tipo de trabalho talvez não esteja em destaque na televisão neste exato momento, mas, como demonstramos ao reverter a difusão do ebola, pode salvar mais vidas do que qualquer outra coisa que façamos.

Juntos, podemos erradicar a pobreza e eliminar as barreiras à oportunidade, mas isso requer um compromisso sustentado para com nossos povos, o que permitiria que os agricultores alimentem mais pessoas, os empreendedores criem mais empresas sem pagar propinas, os jovens adquiram a capacitação de que necessitam para o sucesso na moderna economia do conhecimento.
Podemos promover crescimento por meio de comércio que respeite padrões mais elevados, e é isso que estamos fazendo na Parceria Transpacífico, um acordo comercial que abarca quase 40% da economia mundial, um acordo que abrirá mercados mas protegerá os direitos dos trabalhadores e o meio ambiente, o que permite desenvolvimento sustentável.

Podemos forçar um recuo da poluição que colocamos em nosso ar e ajudar economias a tirar pessoas da pobreza sem condenarmos nossos filhos aos estragos de um clima cada vez mais quente.
A mesma engenhosidade que produziu a era industrial e a era da computação permite que exploremos o potencial da energia limpa. Nenhum país poderá escapar aos danos da mudança do clima, e não existe sinal maior de liderança do que dar precedência às gerações futuras. Os Estados Unidos trabalharão com todas as nações dispostas a fazer sua parte para que possamos nos reunir em Paris e enfrentar decididamente esse desafio.

E por fim, nossa visão para o futuro desta Assembleia, minha crença em continuar avançando, em lugar de recuar, requer que defendamos os princípios democráticos que permitem que sociedades encontrem o sucesso. Vou começar por uma premissa simples: catástrofes como a que estamos vendo na Síria não acontecem em países onde existe genuína democracia e respeito pelos valores universais que esta instituição deve defender.
[Aplausos]
Reconheço que a democracia tomará formas diferentes em diferentes partes do planeta. A ideia mesma de um povo que se autogoverne depende de que o governo permita a expressão de sua cultura singular, sua história singular, suas experiências singulares. Mas algumas verdades universais continuam patentes: nenhuma pessoa deveria ser aprisionada por cultuar pacificamente sua religião. Nenhuma mulher deveria sofrer abusos impunemente, e nenhuma menina deveria ser impedida de ir à escola.

A liberdade de apelar pacificamente aos que detêm o poder, sem medo de leis arbitrárias -essas não são ideias para um só país ou cultura, mas sim ideias fundamentais ao progresso humano. São a pedra fundamental desta instituição.

Compreendo que, em muitas partes do mundo, a visão seja diferente, e que exista uma crença em que uma liderança forte não deve tolerar dissensão. É algo que ouço não só dos adversários dos Estados Unidos mas, em particular, também de alguns de nossos amigos.
Discordo. Acredito que um governo que reprima a dissidência pacífica não está mostrando força, mas mostrando fraqueza, mostrando medo. A história mostra...

A história mostra que regimes que temem seus povos terminarão por desabar. Mas instituições fortes, construídas com o consentimento dos governados, perduram depois que qualquer indivíduo se vai. É por isso que nossos líderes mais fortes, de George Washington a Nelson Mandela, optaram por construir instituições fortes e democráticas de preferência a saciarem qualquer sede pelo poder perpétuo.

Líderes que emendam constituições para ficar no poder estão só reconhecendo que não conseguiram construir um país de sucesso para seu povo, porque nenhum de nós dura para sempre. Isso nos diz que poder é algo ao que eles se apegam pelo poder e só, e não para melhorar as vidas daqueles que afirmam servir.

Compreendo que a democracia é frustrante. A democracia dos Estados Unidos é certamente imperfeita. Ocasionalmente ela pode ser disfuncional, até, mas a democracia, a luta constante para ampliar os direitos de cada vez mais cidadãos, para dar mais voz ao povo, é o que permitiu que nos tornássemos a nação mais poderosa do mundo.
[Aplausos]
Não é simplesmente uma questão de princípio, não é uma abstração. A democracia -a democracia inclusiva- torna o país mais forte. Quando partidos oposicionistas buscam o poder pacificamente nas urnas, um país pode aproveitar novas ideias. Quando uma mídia livre pode informar o público, corrupção e abusos são expostos e podem ser erradicados.

Quando uma sociedade civil prospera, comunidades podem resolver problemas que os governos não necessariamente seriam capazes de resolver sozinhos. Quando imigrantes são acolhidos, os países se tornam mais produtivos e mais vibrantes. Quando meninas podem ir à escola e encontrar empregos, e buscar oportunidades irrestritas, é então que um país realiza seu pleno potencial.

É isso que acredito ser a maior força dos Estados Unidos. Nem todo mundo no país concorda comigo, mas essa é a força da democracia. Acredito que o fato de que se possa caminhar pelas ruas de qualquer cidade, agora mesmo, e encontrar igrejas, sinagogas, templos e mesquitas espelha a diversidade do mundo, e você pode encontrar todo mundo, de todo lugar, aqui na cidade de Nova York.
O fato é que neste país todos podem contribuir, todos podem participar, não importa quem sejam, que aparência tenham, ou a quem amem -isso é o que nos torna fortes. E acredito que aquilo que se aplica aos Estados Unidos seja possível para virtualmente todas as democracias maduras.
Isso não acontece por acaso.

Podemos nos orgulhar de nossas nações sem nos definirmos em oposição a qualquer outro grupo. Podemos ser patriotas sem demonizar os outros. Podemos acalentar nossas identidades, religiões, etnias, tradições, sem menosprezar os outros.

Nossos sistemas têm como premissa a ideia de que o poder absoluto corrompe. Mas que as pessoas -as pessoas comuns- são fundamentalmente boas. Que elas dão valor à família e amigos, à fé e à dignidade do trabalho árduo. E, com os controles e compensações necessários, governos podem refletir essa bondade.

Acredito que devemos buscar juntos o futuro, que devemos acreditar na dignidade de cada indivíduo, acreditar que podemos superar nossas diferenças e optar pela cooperação de preferência ao conflito. Isso não é fraqueza, mas força.

É uma necessidade prática nesse mundo interconectado. E nossos povos sabem disso.
Pensem no médico liberiano que foi de casa em casa buscando casos de ebola e dizendo às famílias o que deveriam fazer caso apresentassem sintomas. Pensem no comerciante iraniano que, depois do acordo nuclear, disse que "se Deus quiser agora poderemos oferecer mais produtos a preços melhores".

Pensem nos norte-americanos que baixaram a bandeira de nossa embaixada em Havana em 1961, o ano em que nasci, e voltaram para lá algumas semanas atrás a fim de hasteá-la de novo.

Um desses homens disse, sobre o povo cubano: "Podemos fazer coisas por eles e eles podem fazer coisas por nós; nós os amamos". Por 50 anos, ignoramos esse fato.

Pensem nas famílias deixando para trás tudo que conheceram, arriscando a travessia de desertos inóspitos e águas bravias para buscar refúgio. Tudo para salvar seus filhos.
Um refugiado sírio, que foi recebido calorosamente e abrigado em Hamburgo esta semana, disse que "sentimos que ainda existem pessoas que amam o próximo".

Os povos de nossas Nações Unidas não são tão diferentes quanto nos dizem. Podem ser obrigados a temer. Podem ser ensinados a odiar. Mas também podem responder à esperança.
A história está repleta dos detritos de falsos profetas e impérios decaídos, que acreditavam que a força vale mais que o direito, e que isso continuaria a ser verdade, com toda certeza.

Mas cabe a nós oferecer um tipo diferente de liderança. Liderança forte o bastante para reconhecer que nossos países têm interesses comuns, e as pessoas têm em comum a sua humanidade. E que, sim, existem ideias e princípios universais. Foi isso que aqueles que deram forma a estas Nações Unidas 70 anos atrás compreenderam.

Sigamos em frente com fé quanto ao futuro, pois essa é a única maneira de garantir que o futuro seja mais luminoso, para os meus e os seus filhos.
Muito obrigado.



DISCURSO NA ÍNTEGRA DE PUTIN NA 70ª REUNIÃO DA ONU - 2015


O presidente russo, Vladimir Putin, discursa na 70ª Assembleia Geral da ONU


PUTIN (ATRAVÉS DE INTÉRPRETE):

Sua Excelência o Senhor Presidente, a sua Excelência o Senhor Secretário-Geral, Senhores Chefes de Estado e de Governo, Senhoras e Senhores, o 70º aniversário da Organização das Nações Unidas é uma boa ocasião para fazer um balanço tanto da história e falar sobre o nosso futuro comum.

Em 1945, os países que derrotaram o nazismo uniram seus esforços para estabelecer bases sólidas para a ordem mundial do pós-guerra.

Mas devo lembrar que as decisões-chave sobre os princípios orientadores da cooperação entre os Estados, bem como sobre a criação da Organização das Nações Unidas, foram feitas no nosso país, em Yalta, na reunião dos líderes da coalizão anti-Hitler.

O sistema de Yalta na verdade nasceu em trabalho de parto. Ele foi ganha à custa de dezenas de milhões de vidas e duas guerras mundiais.
Este varreu o planeta no século 20.

Vamos ser justo. Ele ajudou a humanidade por meio turbulento, em momentos dramáticos, acontecimentos das últimas sete décadas. Ele salvou o mundo de revoltas em larga escala.

As Nações Unidas é único em sua legitimidade, representatividade e universalidade. É verdade que ultimamente a ONU tem sido amplamente criticado por supostamente não ser eficiente o suficiente, e para o facto de a questões fundamentais sobre a tomada de decisões barracas devido a diferenças inultrapassáveis, em primeiro lugar, entre os membros do Conselho de Segurança.

No entanto, eu gostaria de apontar sempre houve diferenças na ONU durante todos esses 70 anos de existência. O direito de veto foi sempre exercida pelos Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a China, a União Soviética e da Rússia depois, da mesma forma. É absolutamente natural para tão diversificada e representativa de uma organização.

Quando a ONU foi fundada, seus fundadores fez nem um pouco pensar que sempre haveria unanimidade. A missão da organização é buscar e alcançar compromissos, e sua força vem de tomar diferentes pontos de vista e opiniões em consideração. As decisões debatidas no âmbito da ONU ou são tomados como resoluções ou não. Como dizem os diplomatas, que quer passar ou não passar.
Quaisquer que sejam as ações qualquer estado pode tomar ignorando este procedimento são ilegítimos. Eles são contrários ao charter e um desafio ao direito internacional. Todos nós sabemos que após o fim da Guerra Fria - todos estão conscientes de que - um único centro de dominação surgiu no mundo, e, em seguida, aqueles que se encontra no topo da pirâmide foram tentados a pensar que se eles eram fortes e excepcional, eles sabiam melhor e eles não têm que contar com a ONU, que, em vez de [agindo para] autorizar e legitimar as decisões necessárias automaticamente, muitas vezes cria obstáculos ou, em outras palavras, fica no caminho.

Ela tornou-se comum ver que, em sua forma original, tornou-se obsoleto e completou a sua missão histórica. Claro, o mundo está mudando e as Nações Unidas devem ser coerentes com esta transformação natural. Rússia está disposta a trabalhar em conjunto com os seus parceiros, com base em consenso total, mas consideramos as tentativas de minar a legitimidade das Nações Unidas como extremamente perigoso. Eles poderiam levar a um colapso de toda a arquitetura de organizações internacionais, e em seguida, na verdade, não haveria outras regras esquerda, mas a regra da força.
Gostaríamos de obter um mundo dominado pelo egoísmo em vez de um trabalho coletivo, um mundo cada vez mais caracterizado por ditar em vez de igualdade. Haveria menos de uma cadeia de democracia e liberdade, e que seria um mundo onde os verdadeiros estados independentes seriam substituídos por um número cada vez maior de de facto protetorados e territórios controlados externamente.

Qual é a soberania do Estado, afinal, o que foi mencionado pelos nossos colegas aqui? É basicamente sobre a liberdade eo direito de escolher livremente o seu próprio futuro para cada pessoa, nação e estado. By the way, caros colegas, o mesmo vale para a questão da chamada legitimidade da autoridade estatal. Não se deve brincar com ou manipular palavras.

Cada termo no direito internacional e assuntos internacionais deve ser clara, transparente e ter entendido uniformemente critérios. Somos todos diferentes, e devemos respeitar isso. Ninguém tem que obedecer a um único modelo de desenvolvimento que alguém tem uma vez por todas reconhecido como o único caminho certo. Todos devemos lembrar que nosso passado nos ensinou.
Também nos lembramos certos episódios da história da União Soviética.Experiências sociais para exportação, as tentativas para pressionar por mudanças dentro de outros países com base em preferências ideológicas, muitas vezes levaram a consequências trágicas e à degradação ao invés de progresso.

Parecia, no entanto, que, longe de aprender com os erros dos outros, todo mundo fica repetindo-los, e assim a exportação de revoluções, desta vez dos chamados aqueles democráticas, continua. Bastaria olhar para a situação no Oriente Médio e Norte da África, como já foi mencionado por oradores anteriores. Certamente os problemas políticos e sociais da região foram se acumulando por um longo tempo, e as pessoas não desejam mudanças naturalmente.

Mas como é que ele realmente vir? Ao invés de realização de reformas, uma interferência externa agressiva resultou em uma destruição de bronze das instituições nacionais e do próprio estilo de vida. Em vez de o triunfo da democracia e do progresso, temos violência, pobreza e desastres social.Ninguém se importa um pouco sobre os direitos humanos, incluindo o direito à vida.

Eu não posso deixar de perguntar aqueles que têm causado a situação, você percebe agora o que você fez? Mas eu estou com medo, ninguém vai responder a isso. Na verdade, as políticas com base em presunção e opinião em seu excepcionalidade e impunidade nunca foram abandonados.
É agora óbvio que o vácuo de poder criado em alguns países do Oriente Médio e Norte da África através do surgimento de áreas de anarquia, que imediatamente começou a ser preenchido com extremistas e terroristas.

Dezenas de milhares de militantes estão lutando sob as bandeiras do Estado islâmico chamado. Suas fileiras incluem ex-militares iraquianos que foram lançados para a rua após a invasão do Iraque em 2003. Muitos recrutas também vêm da Líbia, um país cuja soberania foi destruído como resultado de uma grave violação da resolução do Conselho de Segurança da ONU de 1973. E Agora, as fileiras dos radicais estão sendo acompanhado por membros da chamada oposição síria moderado apoiado pelos países ocidentais.

Primeiro, eles são armados e treinados e então eles desertar para o Estado Islâmico chamado. Além disso, o Estado Islâmico em si não apenas surgiu do nada. Ele também foi inicialmente forjada como uma ferramenta contra regimes seculares indesejáveis.

Tendo estabelecido um ponto de apoio no Iraque e na Síria, o Estado Islâmico começou ativamente expandindo para outras regiões. Ele está à procura de uma posição dominante no mundo islâmico. E não só lá, e seus planos de ir mais longe do que isso. A situação é mais do que perigoso.
Nestas circunstâncias, é hipócrita e irresponsável para fazer declarações fortes sobre a ameaça do terrorismo internacional, enquanto fechando os olhos para os canais de financiamento e de apoio terroristas, incluindo o processo de tráfico e comércio ilegal de petróleo e braços. Seria igualmente irresponsável para tentar manipular grupos extremistas e colocá-los a seu serviço, a fim de alcançar os próprios objetivos políticos na esperança de mais tarde lidar com eles ou, em outras palavras, liquidando-los.

Para aqueles que o fazem, eu gostaria de dizer - Prezados senhores, sem dúvida, você está lidando com pessoas rudes e cruéis, mas eles estão em nenhuma maneira primitiva ou bobo. Eles são tão inteligente como você é, e você nunca sabe quem está manipulando quem. E os dados recentes sobre as armas transferidas para esta oposição mais moderada é a melhor prova disso.

Acreditamos que qualquer tentativa de jogar com os terroristas, e muito menos para armá-los, não são apenas míope, mas disparar perigosos (ph).Isso pode resultar em ameaça terrorista global aumentando dramaticamente e engolindo novas regiões, especialmente dado que os campos de estado islâmico treinar militantes de muitos países, incluindo os países europeus.

Infelizmente, caros colegas, eu tenho que colocá-lo francamente: a Rússia não é uma exceção. Não podemos permitir que esses criminosos que já provei sangue para voltar para casa e continuar suas más obras. Ninguém quer que isso aconteça, não é?

A Rússia sempre foi consistentemente lutar contra o terrorismo em todas as suas formas. Hoje, nós fornecemos militar e assistência técnica tanto para o Iraque ea Síria e muitos outros países da região que estão lutando grupos terroristas.

Achamos que é um erro enorme de se recusar a cooperar com o governo sírio e suas forças armadas, que estão lutando bravamente rosto para enfrentar o terrorismo. Devemos finalmente reconhecer que ninguém, mas forças armadas do presidente Assad e curdos (Ph) milícias estão realmente lutando contra o Estado islâmico e outras organizações terroristas na Síria.

Nós sabemos sobre todos os problemas e contradições na região, mas que foram (ph) com base na realidade.

Caros colegas, devo observar que uma tal abordagem honesta e franca da Rússia foi recentemente utilizado como pretexto para acusá-lo de suas crescentes ambições, como se aqueles que dizem que não tem ambições em tudo.

No entanto, não é sobre as ambições da Rússia, caros colegas, mas sobre o reconhecimento do fato de que não podemos mais tolerar o estado atual das coisas no mundo. O que nós propomos é, na verdade, a ser orientada por valores e interesses comuns, em vez de ambições.

Com base no direito internacional, temos de juntar esforços para resolver os problemas que todos nós estamos enfrentando e criar uma ampla coalizão genuinamente internacional contra o terrorismo.
Semelhante à coalizão anti-Hitler, que poderia unir uma ampla gama de forças que estão resolutamente resistir aqueles que, assim como os nazistas, porca mal e do ódio da humanidade. E, naturalmente, os países muçulmanos estão a desempenhar um papel-chave na coalizão, ainda mais porque o Estado islâmico não tem apenas representam uma ameaça direta para eles, mas também profana uma das maiores religiões do mundo por seus crimes sangrentos.

Os ideólogos (ph) de militantes fazer uma paródia do Islã e perverter os seus valores verdadeiros humanistas (PH). Eu gostaria de abordar líderes espirituais muçulmanos, também. A sua autoridade e sua orientação são de grande importância no momento.

É essencial evitar que as pessoas recrutadas por militantes de tomar decisões precipitadas e aqueles que já foram enganados, e que, devido a várias circunstâncias encontraram-se entre os terroristas, precisam de ajuda para encontrar um caminho de volta à vida normal, que estabelece os braços, e colocando um fim ao fratricídio.

Rússia breve convocar, como o (ph) atual presidente do Conselho de Segurança, uma reunião ministerial a realizar uma análise global das ameaças no Oriente Médio.

Em primeiro lugar, propomos a discutir se é possível chegar a acordo sobre uma resolução destinada a coordenar as ações de todas as forças que confrontam o Estado Islâmico e outras organizações terroristas. Mais uma vez, esta coordenação deve basear-se nos princípios da Carta das Nações Unidas.

Esperamos que a comunidade internacional será capaz de desenvolver uma estratégia global de estabilização política, assim como a recuperação social e económica, do Oriente Médio.

Então, queridos amigos, não haveria necessidade de novos campos de refugiados. Hoje, o fluxo de pessoas que foram forçadas a deixar sua terra natal tem literalmente engolida primeiros países vizinhos e, em seguida, a própria Europa. Havia centenas de milhares deles agora, e pode haver milhões em pouco tempo. Na verdade, é uma nova grande e trágica migração dos povos, e é uma dura lição para todos nós, incluindo a Europa.

Eu gostaria de salientar os refugiados, sem dúvida, precisam de nossa compaixão e apoio. No entanto, o - no caminho para resolver este problema em um nível fundamental é restaurar a sua condição de Estado onde foi destruído, para fortalecer as instituições do governo onde eles ainda existem ou estão a ser restabelecida, a prestar assistência abrangente de militar, econômico e material natureza para países em uma situação difícil. E, certamente, para aquelas pessoas que, apesar de todas as provações, não vai abandonar as suas casas. Literalmente, qualquer assistência aos Estados soberanos pode e deve ser oferecido em vez de impostos única e exclusivamente em conformidade com a Carta das Nações Unidas.

Em outras palavras, tudo neste campo que tem sido feito ou será feito de acordo com as normas do direito internacional deve ser apoiada por nossa organização. Tudo o que viola a Carta das Nações Unidas deve ser rejeitado.Acima de tudo, eu acredito que é da maior importância para ajudar a restaurar as instituições do governo na Líbia, apoiar o novo governo do Iraque e prestar assistência abrangente para o governo legítimo da Síria.

Caros colegas, assegurar a paz ea estabilidade regional e global continua a ser o objectivo fundamental da comunidade internacional com a ONU à sua frente. Acreditamos que isso significa criar um espaço de segurança igual e indivisível, o que não é para o seleto poucos, mas para todos. No entanto, é um desafio e tarefa complicada e demorada, mas simplesmente não há outra alternativa. No entanto, o bloco pensamento dos tempos da Guerra Fria eo desejo de explorar novas áreas geopolíticas ainda está presente entre alguns dos nossos colegas.

Primeiro, eles continuam a sua política de expansão da NATO. Para que? Se a Varsóvia Bloc parou de sua existência, a União Soviética entraram em colapso (ph) e, no entanto, a NATO continua em expansão, bem como a sua infra-estrutura militar. Em seguida, eles ofereceram os países soviéticos pobres uma falsa escolha: ou para estar com o Ocidente ou com o Oriente. Mais cedo ou mais tarde, essa lógica de confrontação foi obrigado a desencadear uma grave crise geopolítica. Este é exatamente o que aconteceu na Ucrânia, onde o descontentamento da população com as autoridades atuais foi utilizado e do golpe militar foi orquestrada de fora - que desencadeou uma guerra civil como um resultado.

Estamos confiantes de que somente através de aplicação integral e leal dos acordos de Minsk de 12 de fevereiro de 2015, podemos pôr fim ao derramamento de sangue e encontrar uma saída para o impasse. Integridade territorial da Ucrânia não pode ser assegurada por ameaça de força e força das armas. O que é necessário é uma verdadeira consideração pelos interesses e direitos das pessoas na região de Donbas e respeito pela sua escolha. Há uma necessidade de coordenar com eles, tal como previsto pelos acordos de Minsk, os principais elementos da estrutura política do país. Estas medidas irão garantir que a Ucrânia irá desenvolver-se como uma sociedade civilizada, como um elo essencial e construção de um espaço comum de segurança e da cooperação económica, tanto na Europa e na Eurásia.

Senhoras e senhores, eu mencionei estes espaço comum de cooperação económica de propósito. Não muito tempo atrás, parecia que na esfera econômica, com a sua perda objectivo do mercado, que iria lançar uma folha (ph) sem linhas divisórias. Gostaríamos de construir em regras transparentes e formulados conjuntamente, incluindo os princípios da OMC, que prevê a liberdade de comércio e investimento e concorrência aberta.

No entanto, hoje, sanções unilaterais que infrinjam a Carta das Nações Unidas tornaram-se comuns, além de perseguir objetivos políticos. As sanções servir como um meio de eliminar concorrentes.
Gostaria de salientar um outro sinal de um egoísmo económico crescente.Alguns países [ter] escolhidas para criar associações económicas fechados, com o estabelecimento a ser negociado nos bastidores, em segredo desde próprios cidadãos desses países, o público em geral, comunidade empresarial e de outros países.

Outros estados cujos interesses podem ser afectados não são informados de qualquer coisa, qualquer um. Parece que estamos prestes a ser confrontados com um facto consumado que as regras do jogo foram alteradas em favor de um grupo restrito de privilegiados, com a OMC ter nada a dizer. Isso poderia desequilibrar o sistema de comércio completamente e desintegrar o espaço econômico global.
Essas questões afetam o interesse de todos os estados e influenciar o futuro da economia mundial como um todo. É por isso que propomos a discutir-los dentro da ONG OMC ONU (ph) '20.
Contrariamente à política de exclusividade, a Rússia propõe uma harmonização projetos econômicos originais. Refiro-me à chamada integração de integrações com base em regras universais e transparentes do comércio internacional. Como exemplo, eu gostaria de citar os nossos planos para interligar a união económica euro-asiática, ea iniciativa da correia econômica Silk Road da China.
Continuamos a acreditar que a harmonização dos processos de integração na União Económica da Eurásia e da União Europeia é altamente promissor.

Senhoras e Senhores Deputados, as questões que afetam o futuro de todas as pessoas incluem o desafio da mudança climática global. É do nosso interesse para fazer da Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, a realizar em Dezembro, em Paris um sucesso.
Como parte da nossa contribuição nacional, pretendemos reduzir até 2030 as emissões de gases com efeito a 70, 75 por cento do nível de 1990.

Sugiro, no entanto, devemos ter uma visão mais ampla sobre este assunto.Sim, podemos neutralizar o problema por um tempo, pela fixação de quotas sobre as emissões nocivas ou tomando outras medidas que não são nada, mas tático. Mas não vamos resolvê-lo dessa forma. Precisamos de uma abordagem completamente diferente.

Temos de nos concentrar na introdução de tecnologias fundamentais e novas inspiradas na natureza, o que não prejudicaria o ambiente, mas estaria em harmonia com ela. Além disso, que nos permitiria restabelecer o equilíbrio perturbado pela biosfera e technosphere (ph) perturbado por atividades humanas.
É realmente um desafio de âmbito planetário, mas estou confiante de que a humanidade tem potencial intelectual para enfrentá-lo. Temos de unir nossos esforços. Refiro-me, em primeiro lugar, para os estados que têm uma base sólida pesquisa e fizeram avanços significativos na ciência fundamental.
Propomos a convocação de um fórum especial sob os auspícios da ONU para uma consideração abrangente das questões relacionadas com o esgotamento dos recursos naturais, destruição de habitat ea mudança climática.

Rússia estaria disposta a co-patrocinar tal fórum.

Senhoras e Senhores Deputados, colegas, foi em 10 de Janeiro de 1946, em Londres, que a Assembléia Geral das Nações Unidas reuniram-se para sua primeira sessão.
Mr. Suleta (ph) (inaudível), um diplomata colombiano e ao presidente da Comissão Preparatória, abriu a sessão dando, creio eu, uma definição concisa dos princípios básicos que a ONU deve seguir em suas atividades, que são livre-arbítrio , desafio de esquemas e artimanhas e espírito de cooperação.

Hoje, suas palavras soam como uma orientação para todos nós. Rússia acredita no enorme potencial das Nações Unidas, que deve ajudar-nos a evitar um novo confronto global e estabelecer uma cooperação estratégica.Juntamente com outros países, vamos trabalhar de forma consistente no sentido de reforçar o papel de coordenação central da ONU Estou confiante de que, trabalhando juntos, vamos tornar o mundo estável e segura, bem como proporcionar condições para o desenvolvimento de todos os estados e nações.

Obrigado.

(Aplausos)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

DISCURSO NA ÍNTEGRA DO PAPA FRANCISCO NO CONGRESSO DOS EUA


Papa Francisco faz discurso no Congresso dos EUA (Foto: Carolyn Kaster/AP)


DISCURSO  NA ÍNTEGRA DO PAPA NO CONGRESSO DOS EUA

24/09/15

Senhor Vice-Presidente,
Senhor Presidente da Câmara dos Representantes,
Distintos Membros do Congresso,
Queridos Amigos!

Sinto-me muito grato pelo convite para falar a esta Assembleia Plenária do Congresso «na terra
dos livres e casa dos valorosos». Apraz-me pensar que o motivo para isso tenha sido o facto de também eu ser um filho deste grande continente, do qual muito recebemos todos nós e relativamente ao qual partilhamos uma responsabilidade comum.

Cada filho ou filha duma determinada nação tem uma missão, uma responsabilidade pessoal e social. A vossa responsabilidade própria de membros do Congresso é fazer com que este país, através da vossa atividade legislativa, cresça como nação. Vós sois o rosto deste povo, os seus representantes. Sois chamados a salvaguardar e garantir a dignidade dos vossos concidadãos na busca incansável e exigente dobem comum, que é o fim de toda a política.

Uma sociedade política dura no tempo quando, como uma vocação, se esforça por satisfazer as carências comuns, estimulando o crescimento de todos os seus membros, especialmente aqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade ou risco. A atividade legislativa baseia-se sempre no cuidado das pessoas. Para isso fostes convidados, chamados e convocados por aqueles que vos elegeram.

O vosso trabalho lembra-me, sob dois aspectos, a figura de Moisés. Por um lado, o patriarca e legislador do povo de Israel simboliza a necessidade que têm os povos de manter vivo o seu sentido de unidade com os instrumentos duma legislação justa. Por outro, a figura de Moisés leva-nos diretamente a Deus e, por consequência, à dignidade transcendente do ser humano. Moisés oferece-nos uma boa síntese do vosso trabalho: a vós, pede-se para proteger, com os instrumentos da lei, a imagem e semelhança moldadas por Deus em cada rosto humano.

Nesta perspectiva, hoje quereria dirigir-me não só a vós mas, através de vós, a todo o povo dos Estados Unidos. Aqui, juntamente com os seus representantes, quereria aproveitar esta oportunidade para dialogar com tantos milhares de homens e mulheres que se esforçam diariamente por cumprir uma honesta jornada de trabalho, por trazer para casa o pão de cada dia, por poupar qualquer dólar e – passo a passo – construir uma vida melhor para as suas famílias. São homens e mulheres que não se preocupam apenas com pagar os impostos, mas – na forma discreta que os caracteriza – sustentam a vida da sociedade. Geram solidariedade com as suas atividades e criam organizações que ajudam quem tem mais necessidade.

Quereria também entrar em diálogo com as numerosas pessoas idosas que são um depósito de sabedoria forjada pela experiência e que procuram de muito modos, especialmente através do voluntariado, partilhar as suas histórias e experiências. Sei que muitas delas estão aposentadas, mas ainda activas e continuam a empenhar-se na construção deste país. Desejo também dialogar com todos os jovens que lutam por realizar as suas grandes e nobres aspirações, que não se deixam extraviar por propostas superficiais e que enfrentam situações difíceis, tantas vezes resultantes da imaturidade de muitos adultos. Quereria dialogar com todos vós, e desejo fazê-lo através da memória histórica do vosso povo.

A minha visita tem lugar num momento em que homens e mulheres de boa vontade estão a celebrar o aniversário de alguns americanos famosos.

Apesar da complexidade da história e da realidade da fraqueza humana, estes homens e mulheres foram capazes, com todas as suas diferenças e limitações, de construir um futuro melhor com trabalho duro e sacrifício pessoal – alguns à custa da própria vida.

Deram forma a valores fundamentais, que permanecerão para sempre no espírito do povo americano. Um povo com este espírito pode atravessar muitas crises, tensões e conflitos, já que sempre conseguirá encontrar a força para ir avante e fazê-lo com dignidade. Estes homens e mulheres dão-nos uma possibilidade de ver e interpretar a realidade. Ao honrar a sua memória, somos estimulados, mesmo no meio de conflitos, na vida concreta de cada dia, a haurir das nossas mais profundas reservas culturais.

Quereria mencionar quatro destes americanos: Abraham Lincoln, Martin Luther King, Dorothy
Day e Thomas Merton.

Este ano completam-se cento e cinquenta anos do assassinato do Presidente Abraham Lincoln, o guardião da liberdade, que trabalhou incansavelmente para que «esta nação, com a proteção de Deus, pudesse ter um renascimento de liberdade». Construir um futuro de liberdade requer amor pelo bem comum e colaboração num espírito de subsidiariedade e solidariedade.

Todos estamos plenamente cientes e também profundamente preocupados com a situação social e política inquietante do mundo actual. O nosso mundo torna-se cada vez mais um lugar de conflitos violentos, ódios e atrocidade brutais, cometidos até mesmo em nome de Deus e da religião. Sabemos que nenhuma religião está imune de formas de engano individual ou de extremismo ideológico. Isto significa que devemos prestar especial atenção a qualquer forma de fundamentalismo, tanto religioso como de qualquer outro género.

É necessário um delicado equilíbrio para se combater a violência perpetrada em nome duma religião, duma ideologia ou dum sistema económico, enquanto, ao mesmo tempo, se salvaguarda a liberdade religiosa, a liberdade intelectual e as liberdades individuais. Mas há outra tentação de que devemos acautelar-nos: o reducionismo simplista que só vê bem ou mal, ou, se quiserdes, justos e pecadores.
O mundo contemporâneo, com as suas feridas abertas que tocam muitos dos nossos irmãos e irmãs, exige que enfrentemos toda a forma de polarização que o possa dividir entre estes dois campos. Sabemos que, na ânsia de nos libertar do inimigo externo, podemos ser tentados a alimentar o inimigo interno. Imitar o ódio e a violência dos tiranos e dos assassinos é o modo melhor para ocupar o seu lugar. Isto é algo que vós, como povo, rejeitais.

Pelo contrário, a nossa resposta deve ser uma resposta de esperança e cura, de paz e justiça. É-nos pedido para fazermos apelo à coragem e à inteligência, a fim de se resolverem as muitas crises económicas e geopolíticas de hoje. Até mesmo num mundo desenvolvido aparecem demasiado evidentes os efeitos de estruturas e acções injustas. Os nossos esforços devem concentrar-se em restaurar a paz, remediar os erros, manter os compromissos, e assim promover o bem-estar dos indivíduos e dos povos.

Devemos avançar juntos, como um só, num renovado espírito de fraternidade e solidariedade, colaborando generosamente para o bem comum.
Os desafios, que hoje enfrentamos, requerem uma renovação deste espírito de colaboração, que produziu tantas coisas boas na história dos Estados Unidos. A complexidade, a gravidade e a urgência destes desafios exigem que ponhamos a render os nossos recursos e talentos e nos decidamos a apoiar-nos mutuamente, respeitando as diferenças e convicções de consciência.

Nesta terra, as várias denominações religiosas deram uma grande ajuda na construção e fortalecimento da sociedade. É importante que hoje, como no passado, a voz da fé continue a ser ouvida, porque é uma voz de fraternidade e de amor que procura fazer surgir o melhor em cada pessoa e em cada sociedade. Esta cooperação é um poderoso recurso na luta por eliminar as novas formas globais de escravidão, nascidas de graves injustiças que só podem ser superadas com novas políticas e novas formas de consenso social.

Penso aqui na história política dos Estados Unidos, onde a democracia está profundamente radicada no espírito do povo americano. Qualquer atividade política deve servir e promover o bem da pessoa humana e estar baseada no respeito pela dignidade de cada um. «Consideramos evidentes, por si mesmas, estas verdades: que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade» (Declaração de Independência, 4 de Julho de 1776). Se a política deve estar verdadeiramente ao serviço da pessoa humana, segue-se que não pode estar submetida à economia e às finanças. É que a política é expressão da nossa insuprível necessidade de vivermos juntos em unidade, para podermos construir unidos o bem comum maior: uma comunidade que sacrifique os interesses particulares para poder partilhar, na justiça e na paz, os seus benefícios, os seus interesses, a sua vida social. Não subestimo as dificuldades que isto implica, mas encorajo-vos neste esforço.

Penso também na marcha que Martin Luther King guiou de Selma a Montgomery, há cinquenta anos, como parte da campanha para conseguir o seu «sonho» de plenos direitos civis e políticos para os afro-americanos. Aquele sonho continua a inspirar-nos. Alegro-me por a América continuar a ser, para muitos, uma terra de «sonhos»: sonhos que levam à acção, à participação, ao compromisso; sonhos que despertam o que há de mais profundo e verdadeiro na vida das pessoas. Nos últimos séculos, milhões de pessoas chegaram a esta terra perseguindo o sonho de construírem um futuro em liberdade. Nós, pessoas deste continente, não temos medo dos estrangeiros, porque outrora muitos de nós éramos estrangeiros.

Digo-vos isto como filho de imigrantes, sabendo que também muitos de vós sois descendentes de imigrantes. Tragicamente, os direitos daqueles que estavam aqui, muito antes de nós, nem sempre foram respeitados. Por aqueles povos e as suas nações, desejo, a partir do coração da democracia americana, reafirmar a minha mais alta estima e consideração. Aqueles primeiros contatos foram muitas vezes tumultuosos e violentos, mas é difícil julgar o passado com os critérios do presente. Todavia, quando o estrangeiro no nosso meio nos interpela, não devemos repetir os pecados e os erros do passado. Devemos decidir viver agora o mais nobre e justamente possível e, de igual modo, formar as novas gerações para não virarem as costas ao seu «próximo» e a tudo aquilo que nos rodeia.

Construir uma nação pede-nos para reconhecer que devemos constantemente relacionar-nos com os outros, rejeitando uma mentalidade de hostilidade para se adoptar uma subsidiariedade recíproca, num esforço constante de contribuir com o melhor de nós. Tenho confiança que o conseguiremos.
O nosso mundo está a enfrentar uma crise de refugiados de tais proporções que não se via desde os tempos da II Guerra Mundial. Esta realidade coloca-nos diante de grandes desafios e decisões difíceis.

Também neste continente, milhares de pessoas sentem-se impelidas a viajar para o Norte à procura de melhores oportunidades. Porventura não é o que queríamos para os nossos filhos? Não devemos deixar-nos assustar pelo seu número, mas antes olhá-los como pessoas, fixando os seus rostos e ouvindo as suas histórias, procurando responder o melhor que pudermos às suas situações. Uma resposta que seja sempre humana, justa e fraterna. Devemos evitar uma tentação hoje comum: descartar quem quer que se demonstre problemático. Lembremo-nos da regra de ouro: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (Mt 7, 12).

Esta norma aponta-nos uma direção clara. Tratemos os outros com a mesma paixão e compaixão com que desejamos ser tratados. Procuremos para os outros as mesmas possibilidades que buscamos para nós mesmos. Ajudemos os outros a crescer, como quereríamos ser ajudados nós mesmos. Em suma, se queremos segurança, demos segurança; se queremos vida, demos vida; se queremos oportunidades, providenciemos oportunidades. A medida que usarmos para os outros será a medida que o tempo usará para conosco. A regra de ouro põe-nos diante também da nossa responsabilidade de proteger e defender a vida humana em todas as fases do seu desenvolvimento.

Esta convicção levou-me, desde o início do meu ministério, a sustentar a vários níveis a abolição global da pena de morte. Estou convencido de que esta seja a melhor via, já que cada vida é sagrada, cada pessoa humana está dotada duma dignidade inalienável, e a sociedade só pode beneficiar da reabilitação daqueles que são condenados por crimes.

Recentemente, os meus irmãos bispos aqui nos Estados Unidos renovaram o seu apelo pela abolição da pena de morte. Não só os apoio, mas encorajo também todos aqueles que estão convencidos de que uma punição justa e necessária nunca deve excluir a dimensão da esperança e o objetivo da reabilitação.
Nestes tempos em que as preocupações sociais são tão importantes, não posso deixar de mencionar a Serva de Deus Dorothy Day, que fundou o Catholic Worker Movement. O seu compromisso social, a sua paixão pela justiça e pela causa dos oprimidos estavam inspirados pelo Evangelho, pela sua fé e o exemplo dos Santos.

Quanto estrada percorrida neste campo em tantas partes do mundo! Quanto se fez nestes primeiros anos do terceiro milénio para fazer sair as pessoas da pobreza extrema! Sei que partilhais a minha convicção de que se tem de fazer ainda muito mais e de que, em tempos de crise e dificuldade económica, não se deve perder o espírito de solidariedade global. Ao mesmo tempo, desejo encorajar-vos a não esquecer todas as pessoas à nossa volta encastradas nas espirais da pobreza. Há necessidade de dar esperança também a elas. A luta contra a pobreza e a fome deve ser travada com constância nas suas múltiplas frentes, especialmente nas suas causas. Sei que hoje, como no passado, muitos americanos estão a trabalhar para enfrentar este problema.

Naturalmente uma grande parte deste esforço situa-se na criação e distribuição de riqueza. A utilização correta dos recursos naturais, a aplicação apropriada da tecnologia e a capacidade de orientar devidamente o espírito empresarial são elementos essenciais duma economia que procura ser moderna, inclusiva e sustentável. «A atividade empresarial, que é uma nobre vocação orientada para produzir riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de promover a região onde instala os seus empreendimentos, sobretudo se pensa que a criação de postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem comum» (Enc. Laudato si’, 129). Este bem comum inclui também a terra, tema central da Encíclica que escrevi, recentemente, para «entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum» (ibid., 3). «Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós» (ibid.,14).

Na encíclica Laudato si’, exorto a um esforço corajoso e responsável para «mudar de rumo» (ibid., 61) e evitar os efeitos mais sérios da degradação ambiental causada pela atividade humana. Estou convencido de que podemos fazer a diferença e não tenho dúvida alguma de que os Estados Unidos – e este Congresso – têm um papel importante a desempenhar. Agora é o momento de empreender ações corajosas e estratégias tendentes a implementar uma «cultura do cuidado» (ibid., 231) e «uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza» (ibid., 139). Temos a liberdade necessária para limitar e orientar a tecnologia (cf. ibid., 112), para individuar modos inteligentes de «orientar, cultivar e limitar o nosso poder» (ibid., 78) e colocar a tecnologia «ao serviço doutro tipo de progresso, mais saudável, mais humano, mais social, mais integral» (ibid., 112). A este respeito, confio que as instituições americanas de investigação e académicas poderão dar um contributo vital nos próximos anos.

Um século atrás, no início da I Grande Guerra que o Papa Bento XV definiu «massacre inútil», nascia outro americano extraordinário: o monge cisterciense Thomas Merton. Ele continua a ser uma fonte de inspiração espiritual e um guia para muitas pessoas. Na sua autobiografia, deixou escrito: «Vim ao mundo livre por natureza, imagem de Deus; mas eu era prisioneiro da minha própria violência e do meu egoísmo, à imagem do mundo onde nascera. Aquele mundo era o retrato do Inferno, cheio de homens como eu, que amam a Deus e contudo odeiam-No; nascidos para O amar, mas vivem no medo de desejos desesperados e contraditórios». Merton era, acima de tudo, homem de oração, um pensador que desafiou as certezas do seu tempo e abriu novos horizontes para as almas e para a Igreja. Foi também homem de diálogo, um promotor de paz entre povos e religiões.

Nesta perspectiva de diálogo, gostaria de saudar os esforços que se fizeram nos últimos meses para procurar superar as diferenças históricas ligadas a episódios dolorosos do passado. É meu dever construir pontes e ajudar, por todos os modos possíveis, cada homem e cada mulher a fazerem o mesmo.

Quando nações que estiveram em desavença retomam o caminho do diálogo – um diálogo que poderá ter sido interrompido pelas mais válidas razões –, abrem-se novas oportunidades para todos. Isto exigiu, e exige, coragem e audácia, o que não significa irresponsabilidade. Um bom líder político é aquele que, tendo em conta os interesses de todos, lê o momento presente com espírito de abertura e sentido prático.

Um bom líder político não cessa de optar mais por «iniciar processos do que possuir espaços» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 222-223).

Estar ao serviço do diálogo e da paz significa também estar verdadeiramente determinado a reduzir e, a longo prazo, pôr termo a tantos conflitos armados em todo o mundo. Aqui devemos interrogar-nos: Por que motivo se vendem armas letais àqueles que têm em mente infligir sofrimentos inexprimíveis a indivíduos e sociedade? Infelizmente a resposta, como todos sabemos, é apenas esta: por dinheiro; dinheiro que está impregnado de sangue, e muitas vezes sangue inocente. Perante este silêncio vergonhoso e culpável, é nosso dever enfrentar o problema e deter o comércio de armas.
Três filhos e uma filha desta terra, quatro indivíduos e quatro sonhos: Lincoln, a liberdade; Martin Luther King, a liberdade na pluralidade e não-exclusão; Dorothy Day, a justiça social e os direitos das pessoas; e Thomas Merton, capacidade de diálogo e abertura a Deus. Quatro representantes do povo americano.

Concluirei a minha visita ao vosso país em Filadélfia, onde participarei no Encontro Mundial das Famílias. É meu desejo que, durante toda a minha visita, a família seja um tema recorrente. Como foi essencial a família na construção deste país! E como merece ainda o nosso apoio e encorajamento! E todavia não posso esconder a minha preocupação pela família, que está ameaçada, talvez como nunca antes, de dentro e de fora. As relações fundamentais foram postas em discussão, bem como o próprio fundamento do matrimónio e da família. Posso apenas repropor a importância e sobretudo a riqueza e a beleza da vida familiar.

Em particular quereria chamar a atenção para os membros da família que são os mais vulneráveis: os jovens. Para muitos deles anuncia-se um futuro cheio de tantas possibilidades, mas muitos outros parecem desorientados e sem uma meta, encastrados num labirinto sem esperança, marcado por violências, abusos e desespero. Os seus problemas são os nossos problemas. Não podemos evitá-los. É necessário enfrentá-los juntos, falar deles e procurar soluções eficazes em vez de ficar empantanados nas discussões. Correndo o risco de simplificar, poderemos dizer que vivemos numa cultura que impele os jovens a não formarem uma família, porque lhes faltam possibilidades para o futuro. Mas esta mesma cultura apresenta a outros tantas opções que também eles são dissuadidos de formar uma família.

Uma nação pode ser considerada grande, quando defende a liberdade, como fez Lincoln; quando promove uma cultura que permita às pessoas «sonhar» com plenos direitos para todos os seus irmãos e irmãs, como procurou fazer Martin Luther King; quando luta pela justiça e pela causa dos oprimidos, como fez Dorothy Day com o seu trabalho incansável, fruto duma fé que se torna diálogo e semeia paz no estilo contemplativo de Thomas Merton.

Nestas notas, procurei apresentar algumas das riquezas do vosso património cultural, do espírito do povo americano. Faço votos de que este espírito continue a desenvolver-se e a crescer de tal modo que o maior número possível de jovens possa herdar e habitar numa terra que inspirou tantas pessoas a sonhar.

Deus abençoe a América.
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